quinta-feira, 24 de abril de 2008

Eight Monsters

Não gosto muito dos norte-americanos, apesar de sempre usá-los como exemplo. Mas admiro-os numa qualidade: a arte de fabricar carros. Carros de verdade, sem muitas frescuras.
Ao contrário dos europeus, os automóveis deste país têm muito pouco recursos eletrônicos que visam limitar o rendimento do motor. Se usam, é para o efeito contrário, como a injeção eletrônica multiponto. Segurança é a primeira ordem no velho continente. Por isso, a exemplo da Alemanha, os carros mais potentes vêm com a velocidade limitada eletrônicamente em 250 quilômetros por hora. Apesar de existirem por lá as Autobahn, ou seja, auto-estradas sem limite de velocidade.

Nos EUA, a paixão por automotores está no sangue. Especialmente por carros grandes e motores potentes. E para alimentar essa sede por gasolina, nos anos 60 eles desenvolveram uma categoria de carros popularmente chamada de "muscle cars". Para mim, foi o ápice da indústria automobilística mundial. Carros superpotentes de até 450 cavalos, a preços populares. No Brasil, foram chamados de "V-oitões", devido ao número de cilindros no motor e a forma como eles estão posicionados. O mais popular por aqui chegou nos anos 70, o Maverick, ou simplesmente maveco.

Nos Estados Unidos começou com a criação da Nascar, a categoria de automobilismo mais popular por lá que usa carros de turismo. Nas primeiras décadas, a regra dizia que para competir, um carro precisava ter um número mínimo de unidades vendidas no ano anterior ao da inscrição. Isso popularizou a categoria e também proporcionou o surgimento de ícones, como o Ford Galaxy, os Dodges Challenger e Charger, o Plymouth Hemi-Cuda entre outros.
Mas as duas lendas entre os oito canecões surgiram fora da Nascar. Porém, entraram para a história automobilística a partir dela, como carros adorados no mundo inteiro. Primeiro, o Chevrolet Corvette, que foi o carro que começou esta onda ainda nos anos 50, e que nos anos 90 foi eleito como carro símbolo da terra do Tio Sam.

O segundo, e para mim o melhor, é o Ford Mustang. Foi ele quem popularizou os V8's no mundo inteiro. Vendeu tanto, que surgiram outras versões deste carro, como o conversível e o coupé (fastback). Contudo, em 1965 o designer de automóveis Carrol Shelby pediu para fazer algumas modificações no carro. Terminado o trabalho, apresentou à direção da Ford, que adorou o desenho. Surgiu assim o Mustang Shelby GT350. Foi o início do mito. Mais potente, inaugurou os motores de oito cilindros "big-block" no modelo, muito mais potentes que os "small-blocks".
Em 1964, a Chrysler, através de sua divisão de motores, lançou um dos mais potente motores V8 que já se ouviu falar, o Hemi 426, com incríveis 500 cavalos puros e 68kgf.m(kilograma força por metro) de torque, um absurdo em termos automobilísticos.

Em 1967, o Mustang entrou para a história em definitivo. Foi lançado naquele ano o Shelby GT500, com sua inconfundível cor branca e duas faixas centrais azuis. É considerado o melhor "muscle-car" já produzido em série. É um carro tão idolatrado que em 1999 virou protagonista de filme. Com algumas modificações na mecânica e um design arrojado, mais o apelido Eleanor, estrelou o filme 60 Segundos. Nicolas Cage e Angelina Jolie foram meros coadjuvantes da trama. Após as telonas, a lenda virou mito. Começou então uma era nostálgica na indústria automobilística não só norte-americana, mas mundial. Começaram a ser lançados desde então novos modelos dos antigos V8's, com designs e mecânicas atualizadas. Esse filme também estimulou os amantes de carros no mundo todo a personaliar seus veículos, o chamado tunning.

Hoje em dia, os mitológicos Mustang e Corvette ressurgiram das cinzas, com seus modelos mais novos vendendo como água. Isso acontece principalmente porque os desenhos deles remetem muito aos carros dos anos 60. E ao entrar dentro de um deles, ou pelo menos ver um de perto, já dá aquele frio na barriga que deixa qualquer um arrepiado. Afinal, o ronco de um motor V8 é de assustar, é inconfundível e é irresistível.

Nenhum comentário: